O compositor multicampeão Cláudio Russo vence pela primeira vez na Unidos da Tijuca
Na madrugada deste Domingo, a Unidos da Tijuca escolheu seu hino oficial para o carnaval 2023.
A obra é assinada pelos poetas Júlio Alves, Claudio Russo e Tinga.
Na próxima folia, a azul e amarela do morro do Borel vai apresentar na Avenida o enredo “É onda que vai… É onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha
terra”, que está sendo desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.
Confira a grande festa realizada pela agremiação, e o anúncio do samba vencedor a partir de 05 horas e 33 minutos
Vídeo originalmente publicado pela agremiação
Confira a Letra do Samba
Oh! Mãe deste meu espelho d’água
O mar interior tupinambá
Kirimurê das ondas mansas
Onde aprendi a navegar
No primeiro de novembro
Da real capitania
No olhar dos invasores
A cobiça, a maresia
Nesse eterno dois de julho
Sou caboclo rebelado
Terra que banho de luta
Pau Brasil, barril dobrado
Iluayê, toca o sino da igrejinha
Ileayê atabaques e agogôs
Pra louvar meu Santo Antônio
Pra saudar meu pai Xangô (Kaô, meu pai, Kaô)
Beira de baía que deságua minha fé
Pode ser na missa, ou no xirê do candomblé
Marinheiro só, marinheiro só
O leme do meu saveiro
Quem conduz é o pai maior
Bota dendê e um cadinho de pimenta
Que a marujada vem provar do vatapá
É no mercado, na Lapinha, ou na Ribeira
Se tem samba e capoeira
Camafeu também está
Odoyá Mamãe sereia
Orayeyeô Mamão do ouro
No encontro dessas águas, reluziu o meu tesouro
Opaí ó! É carnaval, onde a fantasia é eterna
Com a Tijuca a paz vence a guerra
E viver será só festejar
Um banho de axé, pra purificar
Um banho de axé nas águas de Oxalá
Sou tijucano rompendo quebrantos
Eu canto a baía de todos os santos
Confira a Sinopse de Enredo
Enredo: ‘É ONDA QUE VAI… É ONDA QUE VEM… SEREI A BAÍA DE TODOS OS SANTOS A SE MIRAR NO SAMBA DA MINHA TERRA’
Capítulo 1
Do Mar
Sou Kirimurê, o grande mar interior do povo Tupinambá. Nasci de uma ave encantada decaída do céu. Contavam os indígenas antigos que seu coração abriu a terra quando tocou o chão, foi preenchido com o mar do Atlântico e suas alvas asas bordaram de areia meu contorno. Sou a mãe cujos filhos são peixes, de águas mornas e mansas onde as baleias cantam.
Capítulo 2
Da Terra
Sou a boca de mar do primeiro de novembro de Gaspar de Lemos, a Capitania de Francisco Pereira Coutinho e dos franceses que vinham até mim, atrás do meu pau-brasil e humaitás.
Vi a comitiva de Tomé de Souza, que D. João III mandou para fundar a primeira capital, desembarcar na praia do porto da Barra. Construíram fortes, trouxeram a cruz, escravizados e cana-de-açúcar. Fui cobiçada pela Companhia das Índias Ocidentais, invadida pelos holandeses.
Mas a terra que banho é barril dobrado; é de luta.
O som de minhas ondas ecoa nos gritos das revoltas, levantes, e pela independência no dois de julho, pois a luta pela liberdade também tem um perfume de maresia.
Capítulo 3
Dos Santos
Sou de todos os santos e axés. Marés barrocas me fizeram África do lado de cá. Na minha beira floresceram igrejas e candomblés. A magia que sopro pelos ares ao meu redor balança as medidas do Bonfim, levanta a saia das baianas, desfralda os estandartes das procissões, faz dançar as folhas das gameleiras de Nosso Senhor da Vera Cruz que fazem levantar os que já se foram, assanha a brasa da fogueira junina de Xangô que ilumina Santo Antônio na novena, mistura o toque dos sinos com os agogôs, espalha a vibração dos atabaques e do Iorubá falado na missa. Pelas minhas águas que a Gratidão do Povo desfila levando Bom Jesus dos Navegantes em triunfo e devoção.
Meu axé deseja que Deus lhe abençoe.
Capítulo 4
Do Povo
Sou a fartura que faz as redes do povo do mar pesarem em alegria. De mim vem o sustento de pescadores, marisqueiras, catadores de pinaúna, de siri-boia, papa-fumo, chumbinho, salambi, peguari, rala coco. Meu balanço ensinou o Marinheiro Só a nadar nos versos cantados na capoeira dos estivadores e no ritmo das Marujadas e Cheganças.
Meu vento infla as velas dos saveiros que me cruzam a superfície em um vai e vem bailarino, me fazem de rua e palco. Levam o pescado, dendê, farinha, cestos de cana-brava, caxixis de barro, rendas de bilro, frutas, folhas, para a feira de São Joaquim e o Mercado Modelo. De lá, aliás, ainda vejo Maria de São Pedro e Camafeu de Oxóssi refletirem em meu espelho d’água a me admirar. Exalo meu encantamento quando se abre uma garrafa de cachaça de folhas e no cheiro das comidas nos tabuleiros, tachos, alguidares, panelas e nas cabeças das Paparutas a rodar e dançar.
Capítulo 5
Do Reino
Sou o reino de Aioká que guarda tesouros e segredos nas profundezas aquáticas. Naufragados descansam em sua eternidade, casas dos habitantes marinhos que enriquecem a arquitetura viva das profundezas. Tenho ouro negro em meu recôncavo, que traz em sua essência a lembrança de um reino extinto há milhares de anos.
Estou na beleza enigmática que envolve a Ilha do Medo e na misteriosa água da Fonte da Bica que, juram, a água fina faz velha virar menina.
Sou a soberana da Amazônia Azul, a mais bela de toda a costa brasileira.
Minha natureza reina absoluta na exuberância da ilha que os frades nomeiam, onde meu azul envolve o verde da mata atlântica num espetáculo de preservação e respeito.
Sou o encontro de duas rainhas. O mar salgado de Iemanjá recebe as águas doces de Oxum quando os rios Paraguaçu, Subaé e Jaguaripe desaguam em mim.
Capítulo 6
Da Festa
Sou navegante da alegria, da festa. Por isso chame, chame, chame gente que eu benzo o banho de cheiro dos foliões, os blocos de caboclinhos, blocos afros e os Afoxés. Chame gente que é massa sentir os sorrisos felizes por trás das máscaras do carnaval dos mascarados, dos caretas e se alegrar com o arrasta povo do Forró do Jegue. Ó paí, que o embalo da Festa D’Ajuda já anunciou que a capela deu sinal, quem quiser sambar apareça!
Chame gente para tomar um sorvete na Ribeira, se esbaldar no samba de roda da segunda-feira gorda e sambar com a Barquinha de Bom Jesus dos Pobres.
Comemoro e reverencio a vida em cada pôr do sol no farol, com a esperança de que algum dia a paz vencerá a guerra e viver será só festejar.
Texto: Jack Vasconcelos
Ilustração: Antônio Vieira
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