A vermelha e branca de Niterói realizou uma festa grandiosa para escolher o hino oficial de 2023 que foi anunciado por volta de 2 horas da manhã
Na madrugada desta segunda-feira, a Viradouro escolheu seu hino oficial para o carnaval 2023. Os poetas Cláudio Mattos, Dan Passos, Marco Moreno, Victor Rangel, Lucas Neves, Deco, Thiago Meiners, El Toro, Luis Anderson e Jefferson Oliveira assinam a obra.
Na próxima folia, a escola de Niterói levará para a avenida o enredo “Rosa Maria Egipcíaca”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. A agremiação encerrará o último dia de desfiles do grupo especial.
Confira a grande festa realizada pela agremiação, e o anúncio do samba vencedor a partir de 05 horas e 52 minutos
Vídeo originalmente publicado pela agremiação
Confira a Letra do Samba
Rosa Maria, menina flor
Rainha do espelho mar
Na pele do tambor
Pranto das dores que resistiu
Deságua no imenso Brasil
Sua luz incorporou:
Distante me encontro das origens
Caminho onde o corpo foi prisão
Ouro que deixou as cicatrizes
Esperança foi vertigem
A Alma, Libertação
É vento na saia da preta courá
Na ginga do acotundá…
É Ventania
Sete vozes guiaram minhas visões
Mistério, alucinações, feitiçaria
Me Entrego a escrever a predição
Lágrimas nas contas do rosário
Dádiva ao clamor do coração
Palavras de um preto relicário
A voz que cobre o cruzeiro
Reluz sobre nós no fim do calvário
Navega esperança à luz do encantado
Reflete o azul
Senti a alma daqueles, os mais oprimidos
Venci heresia na fé dos divinos
A mais bela rosa aos pés do Senhor
Candombes e batuques no cortejo
Eu sou a santa que o povo aclamou
Eis a flor do seu altar, sua fé em cada gesto
O amor em cada olhar dos filhos meus
No cantar da Viradouro, o meu samba é manifesto
Sou Rosa Maria, imagem de Deus
Eis a flor do seu altar, sua fé em cada gesto
O amor em cada olhar dos filhos meus
No cantar da Viradouro, o meu samba é manifesto
Imagem de Deus, sou eu
Confira a sinopse do Enredo
Enredo: ROSA MARIA EGIPCÍACA
A Profecia das Águas
Presságio… Diante do espelho ondulante das águas, a menina courana1
sentiu a vida passar diante de si. Uma gota se transformou em oceano, fazendo o real transbordar em vertigem. Em transe, percebeu-se tragada por um assombroso redemoinho em meio a um dilúvio brutal. Então defrontou-se com o reflexo de uma mulher misteriosa, de manto reluzente e coroa luminosa, como que a protegendo da própria sina. E, de súbito, viu-se emergir em uma arca resplandecente sobre a qual flutuaria plácida a cortar a fúria das ondas.
A menina chorou frente àquela revelação. Dali em diante, tudo se desfez em mar revolto, apagando as memórias dos seus primeiros anos. Foi rebatizada em águas cariocas, no outro lado do Atlântico. E desse bárbaro ritual de esquecimento, brotou uma nova Rosa, preta e cálida: a Rosa mística do Brasil.
Auri Sacra Fames – A Fome de Ouro
Ainda jovem, seguiu em romaria vigiada, por léguas e léguas mata adentro. Vendida às Minas Gerais, foi
obrigada a peregrinar com os cativos pela Serra da Mantiqueira, longo percurso que a assombrava com visões de paraísos e infernos. Entre bruma e poeira, cortava as alterosas cravejadas de sonho e temor.
Nas freguesias mineiras, a sociedade devota do ouro e dos diamantes era sustentada pela depravada
escravização na colônia. Cortejos de penitentes saíam pelas vielas do arraial entoando ladainhas. Pediam
perdão por muitos pecados, menos o de submeter outros seres humanos a condições degradantes em nome da adoração às pedras e aos metais preciosos. Pacto social que envolvia todo um sistema forjado no privilégio, na degeneração moral e violação da dignidade dos corpos pretos.
Mas havia as frestas sociais. Enquanto servia de oferenda àquela civilização de escândalos e perversões, Rosa acumulou um tanto de joias para se enfeitar e sedas para se cobrir. Os parcos ganhos eram ostentados nos batuques do Acotundá2
. Na magia da noite escura, encandeada de luar e fogueira, a preta girava saia, saudava
as almas e soprava aos ares a fumaça do cachimbo, religando-se à ancestralidade que brotava no terreirão da Fazenda Cata Preta3
, onde era cativa.
1 Courana se refere à origem da protagonista do enredo, oriunda da nação courá, (também chamada courana, courama ou curana). O povoado dessa etnia localizava-se na costa do reino de Benin.
2 Segundo Luiz Mott, “Tundá” ou dança de “Tundá”, de onde deriva “Acotundá”, eram termos recorrentes em cerimônias de matriz africana no Brasil colonial, sendo registrado em Minas Gerais, no povoado de Paracatu.
3 Rosa viveu entre 1733 e 1745 na Fazenda Cata Preta, no arraial do Inficcionado, vilarejo construído entre as montanhas de Minas Gerais.
Rosa Maria Egipcíaca – Viradouro 2023
Vídeo originalmente publicado pela agremiação
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