SÃO CLEMENTE
A preta e amarela abriu a última noite do Carnaval 2020 causando impacto. Alegorias primorosas hipnotizaram o público pela beleza, bom gosto, e por descrever tão bem o enredo “O conto do vigário”, do carnavalesco Jorge Silveira.
O bom humor, a alegria, e a irreverência deram o tom do desfile da São Clemente, sobretudo com um dos autores do samba, o humorista Marcelo Adnet que divertiu os foliões do alto da quarta alegoria “malandro oficial”.
Através da irreverência, a escola construiu um bom caminho para fazer críticas sociais pertinentes e necessárias. Contudo, um ponto a ser revisto pela harmonia da agremiação é o canto, que oscilou muito. Algumas alas cantando com empolgação, enquanto outras pareciam assistir ao desfile em vez de ser parte dele.
Ainda assim, com tantos acertos no desfile que fez, tem chance de uma boa colocação. O problema da escola ficou por conta da comissão de frente. Apesar de todo talento do coreógrafo Junior Scapin, e do empenho dos bailarinos, o grupo enfrentou muitos problemas na tentativa de controlar o tripé, o que pode comprometer a avaliação da apresentação.
VILA ISABEL
A escola do povo de Noel chegou cheio de pompa e circunstância. A escola estava rica, luxuosíssima O índio Brasil voa numa canoa por todo o Brasil para construir sua irmã Brasília. Tentaram falar de todo o país para abordar Brasília, que é o enredo de fato. Foi o melhor caminho? Creio que não. Mas, pelo menos, foi com muito requinte.
Acontece que só riqueza não é suficiente para ganhar carnaval. O samba não convenceu desde a escolha, e a falta de empolgação ao longo do desfile comprovou isso. Pelo enredo que também não convenceu, já era de se esperar.
O carnavalesco Edson prova mais uma vez que é um grande artista, pela qualidade das fantasias e dos carros alegóricos. A Vila prova mais uma vez que é uma grande escola, que sabe administrar bem seus recursos financeiros. Então, o que falta para ter enredo e samba à altura da sua comunidade? Plasticamente foi um grande desfile, mas enredo e samba não convenceram.
Destaque positivo para o primeiro casal, Denadir e Raphael que brilharam. Com movimentos leves mas precisos, e muita delicadeza na dança, a dupla deu um show.
SALGUEIRO
A vermelha e branca da Silva Teles já enfrentou problemas no início do desfile. Na “cabeça” da escola, primeiro casal, carro abre-alas e comissão de frente tiveram dificuldades abrindo vários buracos na pista.
E uma falha de evolução assim já no início do cortejo pode resultar em perda de pontos para a escola. Não bastasse estas dificuldades iniciais, o Salgueiro também falhou ao “dar o recado”.
Na sinopse de enredo anunciou que falaria de Benjamim de Oliveira e a maneira como ele superou dificuldades ao longo da vida, mas na prática se limitou a mostrar o circo. Faltou tratar das muitas dificuldades enfrentadas pelo negro. Plasticamente foi bem, mas a história contada destoava da sua trilha musical, o samba, e do que foi proposto.
UNIDOS DA TIJUCA
Com enredo sobre arquitetura, “onde moram os sonhos”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros de volta à escola onde sagrou-se campeão três vezes, a azul e amarela contou com um samba para ninguém botar defeito.
Canto constante dos componentes, facilitando a evolução, letra impecável, e variações melódicas diferentes do habitual fizeram da obra uma forte candidata aos 40 pontos.
E mestre Casagrande soube aproveita a fina flor que tinha nas mãos, passeando pelo samba com bossas e paradinhas que além de destacar a música, mostraram como a bateria da Tijuca vive um bom momento.
No entanto, mesmo com a volta de Paulo Barros a escola deixou a desejar nos quesitos plásticos. Faltou investimento financeiro, mas também faltou criatividade. Paulo tentou, mas não chegou em soluções brilhantes que impactassem o público, como é de costume do artista.
As fantasias eram de fácil leitura, mas a simplicidade dos materiais utilizados e falhas evidentes de acabamento comprometem o quesito, no qual a escola deve perder preciosos pontos.
O casal O casal Alex Marcelino e Raphaela Caboclo também enfrentou dificuldades. No último módulo de julgamento, já ao fim da coreografia, o pavilhão quase enrolou.
MOCIDADE INDEPENDENTE
Faltou dinheiro. Faltou investimento financeiro, mas faltou mesmo e ficou muito claro. Mas sobrou emoção, que não é quesito, mas pode impulsioná-los.
Ainda que o desenho de Jack Vasconcelos seja de muito bom gosto, a falta de investimento não permitiu um Carnaval grandioso. Mas permitiu sensibilidade, emoção, representatividade. O que faltou em dinheiro sobrou no traço criativo do carnavalesco.
A comunidade da vila Vintém fez bonito nos quesitos de chão. O elogiado samba foi cantado a plenos pulmões, a bateria foi um espetáculo à parte. Mas a grata surpresa foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Bruna Santos.
Com o desligamento inesperado da porta-bandeira, Cristiane Caldas, a escola se limitou a informar à sua comunidade que optou por substituí-la por Bruna. Muitos independentes
criticaram. Torcedores exigentes, contudo não tiveram força para fazer a verde e branco voltar atrás, só coube aceitar. Bruna não decepcionou.
Apresentou um bailado elegante, sincronizado ao seu par, e ainda assim cheio de vigor. Imprimiu seu estilo, acertou, e calou quem duvidou. Nem todas as fantasias proporcionavam uma fácil leitura do enredo, o que pode tirar alguns pontos da agremiação, e os carros alegóricos tinham alguns problemas de acabamento bem visíveis.
Dadas a poucas dificuldades, vai brigar na posição de cima da tabela, com chances reais de chegar ao campeonato.
BEIJA-FLOR
Encerrando a folia de 2020, a azul e branca de Nilópolis levou para a avenida o enredo o enredo “Se essa rua fosse minha”.
A deusa da passarela levou para a avenida alegorias luxuosas com destaque para o abre-alas, retomando suas tradições plásticas. Contudo, com o enredo de difícil compreensão, e falhas no quesito evolução, tendo quase estourado os 70 minutos de tempo de desfile, a escola dificilmente disputará o título.
No quesito fantasias, Cid Carvalho e Alexandre Louzada, fizeram o habitual, levaram luxo, riqueza, e principalmente diversidade de materiais para expressar suas ideias, no entanto não havia conexão entre as alas, não havia uma história sendo contada.
Destaque muito positivo para o samba-enredo. Sempre espera-se muito de uma boa obra, e essa cumpriu seu papel quando a comunidade nilopolitana entregou tudo, canto forte, afinado e emocionante. O rolo compressor teve suas falhas, não disputa o título, mas tem chances de voltar no desfile das campeãs.
Por Redação Publicando News